quarta-feira, 23 de julho de 2008

PROGRAMA DO ÚLTIMO ADEUS.

338- A Derradeira Homenagem


Cerimónia de homenagem aos militares mortos em combate em África e ali sepultados 26 de Julho de 2008 Lisboa, Tancos, Cadima, Castro Verde e Caxinas União Portuguesa de Pára-quedistas





Programa detalhado: Lisboa, 10h00: Concentração seguida de Missa na Igreja da Força Aérea em S. Domingos de Benfica, na presença dos restos mortais dos 3 Soldados Pára-quedistas mortos em Guidaje e recentemente trasladados para Portugal. Celebra a eucaristia D. Januário Torgal Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança, coadjuvado por vários antigos Capelães Pára-quedistas. Estarão presentes delegações de diversas Associações de Pára-quedistas de todo o país e altas entidades civis e militares.





Terminada a missa os restos mortais sairão em direcção à Base Aérea n.º1 (Sintra), onde embarcarão numa aeronave da Força Aérea Portuguesa que os transportará para o Aeródromo Militar de Tancos, frente à Escola de Tropas Pára-quedistas.
A descolagem da aeronave não é imediata de modo a estar apenas em Tancos na hora prevista. Tancos, 14h00: Momentos antes das 14h00 chega à Porta de Armas da Escola de Tropas Pára-quedistas a viatura com as três urnas e dar-se-á inicio ao “Último Adeus dos Pára-quedistas”, junto ao Monumentos aos Mortos em Combate.
Será lida uma descrição da emboscada onde morreram 4 militares pára-quedistas, entre os quais estes 3. O 4º, Soldado António Melo, ficou ferido na emboscada mas veio a falecer mais tarde em Bissau tendo por isso sido repatriado nessa altura.
Terminada a cerimónia, cerca das 14h30, sairão de Tancos em direcção a Cadima, Castro Verde e Caxinas, três carros funerários, cada um com as respectivas urnas, acompanhados pelas Famílias e demais pessoas que o queiram fazer.
Nas localidades de origem os funerais serão realizados de acordo com as instruções das Famílias, havendo em todos Guardas de Honra prestadas pelas Unidades Pára-quedistas e estarão presentes representantes oficiais destas mesmas unidades e das Associações de Pára-quedistas das respectivas regiões.



Cadima (Cantanhede), 17h00: Funeral do Soldado Pára-quedista José Lourenço




Soldado Pára-Quedista MANUEL DA SILVA PEIXOTO Nasceu a 24 de Janeiro de 1951 em Caxinas, Freguesia de Gião, Concelho de Vila do Conde, distrito do Porto. Foi incorporado em 29 de Maio de 1970, como voluntário, no Regimento de Caçadores Pára-quedistas em Tancos. Concluiu o Curso de Pára-quedismo Militar em 2 de Julho de 1971. Foi colocado no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 em Bissalanca na Guiné, em 15 de Janeiro de 1972. Morreu em combate no dia 23 de Maio de 1973 nos arredores de Guidage, tinha 22 anos.







Castro Verde, 18h00: Funeral do Soldado Pára-quedista António Vitoriano


Soldado Pára-quedista ANTÓNIO NEVES VITORIANO Nasceu a 14 de Fevereiro de 1952 na Freguesia e Concelho de Casto Verde, Distrito de Beja. Foi incorporado em 26 de Janeiro de 1972, como voluntário, no Regimento de Caçadores Pára-quedistas em Tancos. Concluiu o Curso de Pára-quedismo Militar em 15 de Julho de 1972. Foi colocado no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 em Bissalanca na Guiné. Morreu em combate no dia 23 de Maio de 1973 nos arredores de Guidage, tinha 21 anos.




Caxinas (Vila do Conde), 19h00: Funeral do Soldado Pára-quedista Manuel Peixoto




Soldado Pára-quedista JOSÉ DE JESUS LOURENÇO Nasceu a 20 de Julho de 1953 na Freguesia de Cadima, Concelho de Cantanhede, Distrito de Coimbra. Foi incorporado em 26 de Fevereiro de 1972, como voluntário, no Regimento de Caçadores Pára-quedistas em Tancos. Concluiu o Curso de Pára-quedismo Militar em 2 de Julho de 1972. Foi colocado no Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 em Bissalanca na Guiné. Morreu em combate no dia 23 de Maio de 1973 nos arredores de Guidage, tinha 19 anos.
A EMBOSCADA.
Em Maio de 1973 a guarnição militar de Guidage, no Norte da então Guiné Portuguesa mesmo sobre a fronteira com a República do Senegal, estava sob pressão dos guerrilheiros do PAIGC, e necessitava ser reabastecida.
A Companhia de Caçadores Pára-quedistas 121, do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas n.º 12 (BCP 12) que operava na Guiné, foi destacada para escoltar uma coluna de socorro à guarnição cercada.
Partindo de Binta na margem norte do rio Cacheu esta coluna tinha que chegar urgentemente a Guidaje.
A guarnição estava sob constantes ataques do PAIGC e temia-se a sua ocupação.
No decurso do deslocamento em direcção a Guidage, a CCP121 foi emboscada e sofreu de imediato 4 baixas. A companhia reagiu ao violento ataque, pediu apoio aéreo, os Fiats ajudaram a neutralizar o inimigo.
A marcha em socorro de Guidage continuou, com os “páras” a transportar 2 mortos e 2 feridos graves.
Um, o Peixoto, chegaria morto ao aquartelamento mas o António Melo ainda foi evacuado de helicóptero, em condições de elevado risco para a aeronave, vindo a falecer já em Bissau. Cemitério de campanha em Guidage Chegada a 121 a Guidage passa a colaborar na defesa da guarnição mas constatou-se que havia interdição aérea na região.
O PAIGC já havia abatido três aeronaves portuguesas na zona, o que impediu a evacuação dos pára-quedistas mortos.
Não puderam assim ser entregues às Famílias como era hábito para todos os pára-quedistas mortos em combate.
Por ordem médica, face às condições do clima e fruto da indisponibilidade de meios de conservação dos corpos, efectuou-se o seu enterro, com honras militares, no cemitério de campanha do quartel, juntamente com outros militares mortos na defesa de Guidage.
Mais tarde quando a situação na região serenou o comando do BCP 12 tentou recuperar os corpos para os entregar às Famílias.
Tal não foi autorizado pois a legislação então vigente obrigava a um período de 7 anos para que um cadáver pudesse ser levantado. As Famílias foram deste facto informadas pelo comando do batalhão e a guarnição de Guidage, a pedido do BCP elaborou um mapa do local onde se situava o cemitério de campanha.
Foram feitas cópias deste documento – que se veio a tornar indispensável passados 35 anos – e guardadas nos arquivos do BCP 12 e no processo individual de cada um dos militares pára-quedistas ali enterrados.
Terminada a guerra em 1974 deu-se a independência da Guiné-Bissau e fruto das condições políticas do período que se seguiu, qualquer tentativa de recuperar os corpos era impossível de concretizar.
Acrescia a situação de insegurança quase permanente na região fronteiriça com o Senegal, ou por disputas fronteiriças com a Guiné-Bissau, ou pela insegurança causada naquela área pela guerrilha do Casamance.
Nunca os pára-quedistas esqueceram este episódio da sua História e sempre esteve presente para muitos o resgate dos corpos dos seus camaradas, sendo certo que a decisão última caberia às respectivas Famílias.
Anos de impasse Entretanto, em 1985, o Governo Português encarrega a Liga dos Combatentes de exumar e concentrar em alguns cemitérios, em África, os restos mortais de todos os militares ali falecidos no decorrer da guerra ultramarina e que estão dispersos por centenas de locais.
De acordo com as mesmas disposições governamentais, no caso de as Famílias desejarem efectuar a transladação dos restos mortais para Portugal, bem como o seu funeral, estas operações terão que ser promovidas e custeadas pelas próprias famílias.
Por volta de 1996 começa a surgir um movimento de antigos pára-quedistas, com o acordo das Famílias dos soldados Lourenço, Peixoto e Vitoriano, que se propõe obter através de um peditório nacional os fundos necessários para tentar resgatar os corpos dos camaradas mortos e enterrados na Guiné-Bissau. Preparação da missão à Guiné-Bissau A União Portuguesa de Pára-quedistas (UPP) toma conhecimento deste assunto e tendo o entendimento que não caberia às Famílias custear o regresso dos seus entes queridos e também que a figura do “peditório” não era a mais adequada, decide custear ela todo o processo. A UPP começou de imediato a planificar a parte mais complexa, a operação de exumação a efectuar em Guidage, e a procurar os meios financeiros para a realizar, que se estimavam em 60.000 Euros.
A este valor havia ainda que acrescentar as despesas de transladação para Portugal bem como a dos funerais e a realização de análises para eventual identificação dos restos mortais. Logo que conseguiu assegurar o financiamento da operação, a UPP pediu uma reunião com a Direcção da Liga dos Combatentes, na qual manifestou o desejo de realizar aquela operação tão breve quanto possível.
A UPP afirmou ainda dispor dos meios humanos, materiais e financeiros para a realizar, e querer efectuá-la no âmbito do mandato que o Governo Português havia atribuído à Liga dos Combatentes.
A UPP pediu assim à Liga que, no âmbito do mandato que esta recebera do Governo, lhe fosse dada cobertura política para a acção que estava planeando para Guidage.
A Liga dos Combatentes, que entretanto já tinha reunido toda a informação relativa aos locais onde haviam sido inumados militares portugueses em África, manifestou grande abertura ao pedido da UPP, decidindo ser ela própria a executar a operação, bem como a suportar os seus custos.
O planeamento foi iniciado de imediato, bem como foram logo constituídas duas equipas para actuarem no terreno: Uma Equipa de Missão, destinada a criar no terreno as condições necessárias para a actuação da Equipa Técnica, constituída por três antigos militares pára-quedistas que participaram nas operações na região em 1973, a que se juntou um militar do Exército que havia servido no quartel de Guidage.
E uma Equipa Técnica, do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e do Instituto de Medicina Legal, destinada a fazer a exumação e a identificação dos restos mortais.
Juntou-se no local para ajudar às escavações uma firma de Bissau contratada pela Liga dos Combatentes.
A recuperação dos corpos em Guidage A missão de recuperação dos corpos decorreu em Março de 2008 com o apoio das autoridades da Guiné-Bissau, do Adido de Defesa e da Missão de Cooperação Técnico-Militar Portuguesa no país e sobretudo de um pequeno mas dinâmico grupo de antigos militares pára-quedistas portugueses que ali residem.
A missão decorreu durante 2 semanas, sendo a primeira dedicada à preparação das condições logísticas, localização do cemitério e escavações até determinado nível abaixo do solo. A segunda semana foi dedicada à exumação e identificação dos restos mortais.
Fruto da localização do cemitério de campanha – hoje terreno completamente irreconhecível – ter sido bem assinalada no mapa feito em 1973, bem como dos equipamentos geo-radar de que a equipa técnica dispunha, foi possível ao fim de três dias de trabalho árduo mas muito meticuloso, dar por concluída a exumação.
No decorrer dos trabalhos de campo a Equipa Técnica conseguiu identificar os restos mortais dos três pára-quedistas pois tinha deles elementos suficientes para tal.
Mas não conseguiu com os outros militares pois não lhe tinham sido fornecidos elementos suficientes para essa identificação.
A razão para esta diferença quanto à disponibilidade dos elementos de identificação foi que, estando as Famílias do militares Pára-quedistas já alertadas para a operação, não havia o risco de as ferir com as suas recordações e esses elementos foram obtidos.
O mesmo não acontecia com as Famílias dos outros militares, que não tinham conhecimento de nada.
Como a UPP não sabia se a operação iria ter êxito, decidiu não lhes pedir nenhuns elementos identificativos a fim de não lhes recordar mágoas passadas.
Transladação para Portugal A UPP desde o primeiro momento decidiu colocar em plano de igualdade todos os militares enterrados em Guidage e transladar e fazer os funerais não apenas dos páraquedistas mas também de todos os outros cujas Famílias o desejassem.
Dado que dos dez militares portugueses ali sepultados dois eram naturais da Guiné, a questão da transladação para Portugal punha-se seguramente para os três Pára-quedistas e possivelmente também para mais cinco militares.
Logo que terminada a missão, a UPP informou as cinco Famílias daqueles militares dos seus resultados e perguntou se desejavam a transladação do seu familiar.
Das cinco Famílias consultadas houve três que manifestaram o desejo de que tal se efectuasse. Entretanto as amostras dos militares exumados têm estado a ser analisadas no Instituto de Medicina Legal a fim de se poder confirmar as identidades.
A demora na identificação dos três militares do Exército e a pressão das Famílias dos Pára-quedistas levaram a UPP a fazer os funerais em separado.
Agora os dos três páraquedistas, já identificados, e os dos três outros militares logo que concluídas as suas identificações.
Chegada a Portugal Em 4 de Julho último pelas 21h30 num avião da TAP - Air Portugal proveniente de Bissau, chegaram a Portugal os restos mortais dos Soldados Pára-quedistas Lourenço, Peixoto e Vitoriano. Transportadas as urnas para o Aeródromo de Trânsito N.º 1 (Aeroporto Militar de Lisboa no Figo Maduro), decorreu um momento propositadamente resguardado e ao qual estiveram presentes apenas alguns familiares, representantes dos antigos combatentes e das actuais unidades pára-quedistas. As urnas foram posteriormente transferidas para a Igreja da Força Aérea em S. Domingos de Benfica (Lisboa), onde já se deslocaram familiares dos falecidos.
Desde o dia 4 de Julho que estão a ser tratados os normais trâmites legais para se proceder aos funerais que terão lugar, como referido no programa detalhado, em 26 de Julho de 2008.
Estes soldados, pelo sacrifício da própria vida, já tinham entrado na História das Tropas Pára-quedistas, da Força Aérea e das Forças Armadas Portuguesas.
A partir de agora esse facto fica reforçado pois são os últimos pára-quedistas mortos em combate a serem devolvidos às suas famílias, mas também os primeiros militares portugueses sepultados em África que regressam à Pátria.
Apoios No decorrer de todo este processo a UPP sentiu o apoio interessado e mesmo de orgulho patriótico de todas, e foram muitas, as entidades e pessoas com quem teve de contactar.
E não pode deixar em claro o facto de o transporte aéreo das urnas de Bissau para Lisboa e os funerais desde Lisboa para os locais de nascimento dos seis militares exumados em Guidage, serem graciosamente feitos respectivamente pela TAP – Air Portugal e pela ANEL – Associação Nacional de Empresas Lutuosas.