quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"EMBLEMA DO LOBO MAU"



394-Américo Silva
Esp.MARME 1ª/69 Guiné

Angola


O Emblema do “Lobo Mau”

Caros amigos

Muitas vezes, participamos ou fazemos coisas, que no próprio momento não lhes damos o seu verdadeiro valor, ou as desvalorizamos até e só muito mais tarde, é que finalmente as avaliamos na sua devida proporção.
Isto vem a propósito do distintivo ou emblema do “Lobo Mau”, nome de código do Allouete III equipado com um canhão MG 20mm.
Como bem sabem, tanto os pilotos como os atiradores/metralhadores que operavam no “heli-canhão”, careciam de prévio treino específico, pois as condições operacionais do manejo do aparelho (helicóptero), assim como daquela arma, obedeciam as normas algo diferentes dos voos em operações quer de colocação ou recuperação de tropas ou feridos em combate.
No período em que cumpri o serviço militar na BA12 – Bissalanca, precisamente entre Julho.1970 a Julho.1972, principalmente na classe dos cabos esp. MAEQ, apenas uns quantos operavam como atiradores da temível arma (canhão MG 20mm).
Era por assim dizer, como que uma elite e esse “estatuto” só era alcançado ao fim de uns bons pares de meses de comissão, como se fosse o prémio da “velhice”...
Quando cheguei à BA12, fui trabalhar nos primeiros tempos para a “manutenção”, passando de seguida para a “linha da frente”, tal como a maioria do pessoal.
Nessa altura, recordo-me apenas que eram atiradores de canhão o Lourenço, o Pedro e o Casaca.
Mais tarde, avancei eu, lembro-me também do Pimentel Figueiredo, do Carlos Meneses e que me perdoem os restantes, não consigo lembrar dos outros nomes.
Estávamos no ano de 1971, cerca de um ano após ter chegado à Guiné, quando tive a oportunidade de vir à “Metrópole” de férias.
Cerca de um mês antes, já fazendo parte da equipa do heli-canhão, desenvolvi a matriz do emblema que seria o distintivo de todos aqueles (pilotos e atiradores) que operavam em tal função.
Emblema de formato redondo, como tantos outros, com o fundo verde, as 3 pás do rotor de cauda do All.III e a cabeça do lobo (que mais parecia um pastor alemão, agressivo), com os dizeres: G.O. 1201 e Esq. 122.
O comando do grupo operacional aprovou a matriz feita por mim em papel vegetal e depois de acertarmos os valores e quantidades (acho que apenas 30 unidades), lá parti eu para férias com a incumbência de, no regresso trazer os emblemas.
E assim foi. Mandei-os fazer em Lisboa, numa casa de artigos militares e bandeiras, ali na “baixa”, os ditos 30 emblemas que mais tarde já na BA12, foram sendo distribuídos pelo pessoal, penso que de uma forma mais ou menos criteriosa.
Eu ainda tenho o meu, que o guardo como uma peça de estimação e agora dou-lhe o real valor que antes não dei, não só pelo facto de ter sido eu a criá-lo como também pela carga histórica que de alguma forma ele é detentor.
No livro da história da FAP, aparece também representado numa colecção de emblemas de esquadras, perpetuando assim a sua criação e a sua componente histórico-militar.
Gostaria de saber quantos mais ex-camaradas que, tal como eu também o envergaram, ainda o possuem.
A finalizar, numa visita a um stand de vendas de artigos militares aquando da exposição da FAP nas comemorações dos 50 anos, vi uma cópia desse emblema, mas com o fundo em cinzento.
Apenas por graça, dirigi-me ao militar que os vendia e informei-o - esse emblema não tem as cores correctas, ao que ele perguntou - mas porquê ?, então eu disse-lhe que os originais pertenciam à BA12 e tinham todos o fundo verde.
Ele olhou para mim de forma algo duvidosa e perguntou - como é que você sabe isso ? então eu respondi-lhe: - é que fui eu o seu autor.
Sorriu, achando interessante a minha observação e ali ficámos a conversar um pouco sobre aqueles tempos do período da guerra colonial.

Américo Silva
VB: São uma autêntica riqueza história estas intervenções deste Grande Companheiro com quem tive a felicidade de conviver na Guiné quando nos roubaram alguns anos à nossa juventude para hoje termos um miserável Pais!
Pois Américo,és realmente um ZÉ ESPECIAL,embora estejas temporariamente em Angola não deixaste de te munir do teu álbum de recordações da Guiné para nos poderes presentear com estes magníficos episódios vividos na nossa BA 12.
Obrigado Companheiro,continuamos a ansiar mais e mais!