sábado, 20 de setembro de 2008

RECRUTA II.




451-João Carlos Sousa
Esp.MMA 2ª/79 BA 4
Sobreda



Companheiro Victor,

Regressado à vida real e depois de algum tempo de "aquecimento dos reactores" e de leitura em dia, o nosso blog tem tido uma participação fantástica em quantidade e qualidade, envio mais uma lembrança da minha passagem pela nossa FAP.
Como já terás reparado, as poucas estórias que tenho enviado têm uma ordenação cronológica e assim, para quem achar de interesse, humildemente tentar ilustrar uma época mais recente que a vossa no pós-guerra colonial, além do meu próprio prazer e necessidade de partilhar estas vivências com quem pode entender esta passagem das nossa vidas.







A Recruta - II



A recruta na nossa OTA foi passada com normalidade no que diz respeito às provas físicas regulares e aos "pagamentos" extraordinários que tantas vezes nos eram exigidos.
Tinha feito sempre desporto no Lisboa Ginásio Clube, clube de grandes tradições e situado ainda hoje na velhinha rua dos Anjos em Lisboa, e, especialmente nesse último ano, tinha sido atleta federado de luta greco-romana e luta livre olímpica, pelo que elevações, flexões, abdominais e mesmo os pulos de galo eram feitos com extrema facilidade.
A propósito dessa minha experiência nas lutas amadoras, uma tarde e junto à carreira de tiro, onde aprendíamos e treinávamos as capacidades de tiro com G3 e pistola Walther 9mm (que na minha mão e nos meus jovens 17 anos dava um coice tremendo), o 2º Sargento Margaça descobriu essa minha passagem pelas ditas lutas, ora sendo ele de Runa, localidade na região Oeste com vastas tradições nas lutas amadoras, não perdeu a oportunidade de me "obrigar" a um combate ali mesmo.








Se tiverem a paciência de ver a fotografia da foto de grupo da 2ª de 79 que o Víctor Barata publicou no "nosso" blog, depressa poderão perceber o resultado desse combate.
Eu ajudo, na 1ª fila eu sou o 4º a contar da esquerda e o 2ºSargento Margaça está ao meu lado. Como não éramos candidatos a Tropas Especiais, a recruta não era especialmente violenta, no entanto, a maior dificuldade no aspecto físico foi a semana de campo, pois, no primeiro dia, fizemos uma marcha de cerca de 60 kms, segundo disseram os instrutores (a mim pareceram-me 600).
Partimos de madrugada completamente equipados, transportando a G3 e a mochila com o respectivo material da semana de campo, incluindo as extraordinárias rações de combate, com a chegada ao local do acampamento a acontecer já de noite (apesar de estarmos em Julho).
Este dia foi duro, tendo havido várias desistências pelo caminho.
No meu caso, tendo chegado ao fim, os pés cederam e ficaram cheios de "bolhas", apesar de ter calçado 2 pares de meias por sugestão dos mais "experientes".
O tratamento dado no acampamento foi o corte da pele que cobria essas "bolhas" pelo que no regresso, em sistema de orientação por patrulhas de 11 elementos, em vez de pele estava "carne viva" e as dores eram muitas.
Neste exercício ficou patente de forma indelével o espírito de camaradagem.
Todos me ajudaram a chegar ao fim, aliviando-me do peso da mochila ou da G-3, o Luizinho, por exemplo, carregava a dobrar e ainda assobiava alegremente (talvez para espantar a dificuldade). Breves passagens da nossa vida que não se esquecem.
Agora que estou a reler o texto anterior, mais uma vez me lembro de uma boa lição de vida pois apesar de me achar muito forte e pensar que tudo poderia vencer, algumas provas surgiram para me mostrar que tal não era verdade e, no final, o espírito de grupo e de camaradagem é o que nos pode levar mais além.
Desculpem a "seca" destas passagens que em nada se comparam às dificuldades vividas por todos vós na Guerra do Ultramar e que eu tão atentamente leio, mas a honra e orgulho de ter pertencido à nossa FAP e de ter sido Especialista penso que devem ser os mesmos.
Saudações Especiais a todos os Companheiros da Tertúlia da Linha da Frente e aos Visitantes deste espaço.
João Carlos Silva



VB: Olá João.
Não sei bem como vai ser,a licença era de um mês e tu...abusas-te! Ainda com agravante de seres "piriquito",não sei se te vou conseguir safar das altas esperas da Tertúlia?!...Vamos esperar!
Pois bem João,tal como tu cativas as nossas histórias,nós também gostamos de saber como foi e como vai a nossa FAP depois de nós.
Por isso é que estamos sempre à tua espera na placa da "LINHA DA FRENTE".