sábado, 31 de janeiro de 2009

754 A ESPERANÇA TUDO SUPORTA.


Luís Santos
1ºCbºEnferº Tete
Cacém
Amigo Vítor Barata:
após ler o depoimento do Ten.Pilav. Miguel Pessoa, posso ver o quanto este nosso amigo, sofreu, e penso que muito se tem escrito acerca deste episódio, que não estou a par, tive a oportunidade de ver no site a sua evacuação, de quando foi abatido por o míssil Strella, que passou uma noite em pleno mato com uma perna partida.
Só quem passa por estas provações, é que sabe dar valor á vida, e pensa em tudo o que lhe poderá vir a acontecer, etc.
.É a história das nossas vidas, longe dos nossos entes queridos, e do nosso conforto do dia a dia, foi vivido em tempos difíceis, de que nunca pedimos nada em troca, a não ser a nossa dedicação e amor á nossa Pátria.
Quem não esteve nos teatros de Guerra, não sabe dar valor, nem pode avaliar, o que foi, principalmente na Guiné, que foi o mais evidente, dos sofrimentos dos três ramos das Forças Armadas ai estacionadas, no cumprimento do seu dever, o de defender, as populações, e a nossa bandeira, e em que condições, o fizeram, não olhando a esforços, arriscando a própria vida.
Eu estava no AB7 TETE, em Moçambique, como Enfermeiro, e apercebia-me, como as nossas tropas, Infantaria, Comandos, Paraquedistas, Fuzileiros, que por ali passavam, qual o seu estado de espírito. Depois as evacuações, muitas vezes, estava de folga, pronto para ir até á cidade de TETE, e chegava um avião com feridos, e iam pedir-me, para lhes dar uma mãozinha, no tocante, a verificação de soros, garrotes, verificação, e alivio, para se poder fazer a circulação sanguínea, e voltar a garrotar, até chegarem ao hospital mais próximo, Lourenço Marques ou Beira.
Na época AB7 (TETE) era uma zona muito conturbada, com todas as condicionantes, posso dar valor a tudo o que o Ten.Pil AV. Miguel Pessoa diz, porque no AB7 TETE, também se vivia já com o terror dos Strella, os pilotos dos FiatsG91, DO, jámanifestavam algum receio.
Como enfermeiro, que por vezes, tive que acompanhar doentes a TETE civil, de DO ou nos Heli, já pensava duas vezes, em pleno voo, quando é que nos tocava a nossa vez
Pilotos Falecidos no AB7 TETE, que me lembre, á data: 1971, tivemos três, um o Furriel Manuel Paixão Antunes da Silva, O Furriel Mesquita e o Alferes de Helli, que não me recordo o nome.
O Furriel Paixão, faleceu em consequência de uma falha de motor do DO27, por um dos cilindros, ter rebentado, após descolagem de TETE civil, Aero clube, onde foi fazer uma evacuação de um militar do exercito, vindo de Chicoa.
O Furriel Paixão, tinha chegado de Temboe, e pediram-lhe, se não se importava de fazer aquela evacuação, só tinha que mudar de aeronave, que já estava com os plenos feitos. para não terem que recorrer ao piloto de dia. Ele disse para lhe darem uns auscultadores, e micro, porque o capacete lhe fazia muito calor, e como era só levantar, e passados 7 km aterrar, não justificava o capacete.
Ainda o estou a ver, com a porta do lado dele levantada, e com um sorriso nos lábios, eu que estava, a tentar por um motor de um avião de aeromodelismo em marcha, mas o malvado não pegava, e ele disse-me:
Ó Luís, então isso não pega?! Diz ai ao nosso Cabo que te empreste o Peat-Peat, assim tens corrente com fartura e isso pega de caminho. Eu sorri, e ele lá se despediu de nós com um aceno de mão, e lá foi.
No regresso após descolagem o DO entrou em perda, ele ainda tentou voltar ao aeroclube e aterrar de emergencia, mas não foi possível e caiu no Zambeze.
O Furriel Paixão, morreu com fractura do Occipital, se tivesse levado o capacete, talvez se tivesse safado.
O mecânico de bordo de nome Garrido desapareceu até aos dias de hoje. A porta do seu lado, estava arrancada, porque accionou a alavanca de abertura de emergência,
os cintos de segurança , estavam cortados, nas o Garrido nunca mais apareceu.
O Furriel Mesquita, faleceu em consequência de um passe de Bomba, o T6, foi atingido pelos estilhaços da mesma bomba que lançou, ficou sem comandos, quando recuperava do passe, falou para o seu companheiro de parelha: Qimba, tenho fogo a bordo, o colega, disse-lhe, tenta saltar, não consigo, e despenhou-se num morro á sua frente, em voo invertido.
O Mesquita , tinha por habito, fazer os passes abaixo das quotas exigidas. Nos breefings, já lhe tinham alertado para este efeito.
Quem voava com ele, o Alferes Salbany, que presentemente, era comandante da TAP, já aposentado á pouco tempo.
O Alferes do Alluette III, despenhou-se ao fundo das pistas do AB7, junto ao afluente do Zambeze, o Revugué, eram 6.30H da manhã, eu e meu colega de quarto, ainda estavamos deitados e de repente toca a sirene e eu disse: Olha foi acidente e pelos vistos, é grave, dai a 5 minutos, entra o Oficial de dia muito espavorido: Enfermeiros, depressa, preparem estjos de primeiros socorros e oxigénio, sigam na ambulância, para o fundo das pistas, caiu um Helli.
Quando lá chegamos, o espectáculo era dantesco.
Vi dois corpos a arder como tochas, os bombeiros, accionaram o canhão de neve carbónica e parece-me que ainda era pior, os materiais que estavam em combustão, começaram aos estoiros e a lançar estilhaços para tudo quanto era sitio.
Ao removermos os corpos do local , ainda me escaldei num deles.

Saudações Aeronauticas,

Luís Santos