sábado, 28 de agosto de 2010

Voo 1890 A MINHA GRATIDÃO AO CASCAIS.





Victor Sotero
Sargº.Mor(Refº)
Damaia




Ao "Comando", à "Linha da Frente" e a todos os "Zés" que nos visitam, as minhas saudações.

De vez em quando, dou comigo a ler páginas do meu "imaginário" livro de recordações, apetecendo-me após, passar para o papel o que são as saudades.
Não estivesse a Unidade "fechada" à navegação por causa do mau tempo que se fez sentir e eu fazia já a minha aterragem.
Mas não, devido aos "estratos" muito baixos, cá de cima, nem uma luz dos candeeiros a petróleo se consegue ver ao longo da pista.Vou fazer a minha aterragem amanhã, logo de manhã.
A Natureza tem destas coisas. Ontem não se via nada. Hoje, o Céu está completamente descoberto, limpinho.
Já pedi autorização à Torre e por isso, vou tentar uma aterragem o mais perfeita que puder pois comigo, trago também o "meu" mecânico de voo. Um dos melhores mecânicos que conheço e que a Força Aérea também mereceu.
Meu "Comandante" dá licença que apresente este mecânico que hoje tive o privilégio de voar com ele?
Um grande "Zé" Especial de M.M.A..
Armando de Sousa CASCAIS nasceu em Setúbal e iniciou na Força Aérea a sua formação militar em 1962.Será, digo eu, conhecido por alguns elementos da nossa "Linha da Frente" ou até mesmo por quem nos visita na Base.
Faz muitos anos que o conheci pois sendo de uma Especialidade diferente da minha, foi do meu curso de Sargentos na Ota, iniciado em Maio de 1970.
A falta de um monitor numa das disciplinas (creio que de motores), fez com que terminasse uns dias depois de mim, o respectivo curso, fazendo com que eu tenha uma data de antiguidade diferente, sendo mais velho na promoção. (eu sou de 1966 e por isso, nunca concordei e acho que foi uma injustiça)
O Cascais foi sempre e em Moçambique, o mecânico de voo dos Dacotas.
Na ilha Açoreana da Terceira, onde vive, foi na Base Aérea nº 4, mecânico de voo dos Aviocares.
Em 1992, com os incentivos então criados com a chamada Lei dos Coronéis, como Sargento Ajudante, disse Adeus à Força Aérea, mas nem por isso deixou de frequentar habitualmente o Clube de Sargentos.
Se antes o Cascais era um dos melhores pescadores da ilha com o pouco tempo disponível, agora tinha o tempo todo.
Comprou um barco melhor do que o anterior, o "ADEUS" e claro, sempre que o tempo o permitia, lá ia ele mar dentro com o Brasil.
Os fins de semana, eram normalmente destinados à pesca com os amigos, e ainda hoje é assim.
Eu fazia parte dos amigos que o rodeavam.
Quando convidado, lá ia eu também mar dentro.
O Cascais sabia e conhecia, como conhece, os pesqueiros com as respectivas espécies de peixe.
Se eu queria gorazes, lá íamos para o pesqueiro.Virava-se para a ilha procurando os "pontos" de marcação.
O cimo da torre da igreja na cidade da Praia alinhada com o farol e o telhado da casa no alto da serra, era o pesqueiro.
Para variar a espécie a pescar, lá íamos para outro pesqueiro e novamente outras marcações visuais.
-Éra preciso estar de olho bem aberto para os outros pescadores não conhecerem os pesqueiros.
Se algum barco se aproximava demais, lá íamos para outro sitio.
Pescava-se a uma profundidade de sessenta a setenta metros de profundidade e por vezes, muito mais.
Um dia, quando recuperava o meu aparelho de 5 anzóis, a meia água, senti um enorme puxão na linha.Com a sua voz calma, o Cascais disse-me: -Homem, isso é um peixe-espada!
Na verdade, juntamente com quatro gorazes, vinha também um grande peixe-espada.
Retirado o peixe dos anzóis, o espada ficou muito quieto no fundo do barco.
Continuando a pescaria, passado pouco tempo, reparo que o espada se encontrava inquieto e levanto-me para lhe dar uma "mocada" na cabeça. Não tive tempo.
Ergueu-se na vertical e apenas com o rabo junto ao chão do barco, atirou-se borda fora.
-Era um grande peixe-espada e eu nunca acreditei que se fosse embora apesar do Cascais com a sua sabedoria me ter dito para lhe dar uma "cacetada" na cabeça.

E os golfinhos? Que espectáculo!
Porque as águas Açoreanas são temperadas, os golfinhos abundam muito em redor das ilhas.
Uma vez, quando nos dirigia-mos para o mar, já fora da baía da cidade, e com um mar mais parecendo um lençol, (mar chão), do nosso lado direito, começamos a ver muita agitação na superfície da água.
Éra um enorme cardume de golfinhos que se aproximava e rapidamente, uns por baixo, outros por cima do barco, outros ainda quase espreitando para dentro da embarcação, pareciam querer saudar-nos.
Eu, sempre à espera que algum caísse dentro do barco, mas não, sabiam muito bem o que faziam.
Que espectáculo!...Brincavam connosco!

Eu devo muito ao Cascais.

Um dia, não havendo pescadores no mar porque o tempo estava mau, sabendo que eu vinha passar uns dias ao Continente,
o Cascais conseguiu arranjar cinco belos pargos na lota, concerteza junto de amigos.
Nunca me aceitou qualquer dinheiro apesar de eu querer verdadeiramente pagar.
Um grande amigo este "ZÉ ESPECIAL" que por aqueles mares lá se vai entretendo.
Deste lado do Atlântico, eu não o esqueço bem assim como a sua família.
Meu Comandante:Despeço-me do "Comando", da "Linha da Frente" e de todos os "Zés" com um até breve.

Sotero


Legenda: A foto mostra uma pescaria de chernes, peixe muito valioso. Quase que de certeza, estes foram parar a Espanha ou até mesmo à América.
Foto:Victor Sotero(direitos reservados)

VB: Ó Sotero,lembras-te quando nós dizia-mos: "Eu sou Araújo e não Marujo!" Pois o Zé Cascais tinha as duas especialidades. Quanto é bom recordarmos os nossos companheiros e os momentos alegres e divertidos com que com eles compartilhamos a nossa vida. Tu vais um pouco mais longo para reconheceres a tua gratidão para com este nosso Zé Cascais. É por estas e outras que somos ESPECIAIS.