quarta-feira, 23 de março de 2011

Voo 2212 PAU DE COBRA OU PICA MIOLOS?


Victor Sotero
Sargº.Mor EABT
Lisboa







Meu Comandante:
Saudações aeronáuticas.
Saudações ao “Comando”, à “Linha da Frente” e a todos os “Zés” que por aqui nos vão visitando.
Mais uma vez lá tive que me socorrer do meu já amarelecido imaginário livro de recordações para chegar ao ano de 1968 e relembrar uma situação ocorrida após o almoço de um certo dia.
Era normal após o almoço beber o meu café e logo a seguir correr direito à camarata para tomar o meu banho, já que se tinha tornado num hábito.
Naquele dia o plantão andava muito aflito porque tinha visto uma cobra dentro da camarata e não conseguiu apanhá-la nem sabia onde se tinha metido.
Como é que teria entrado para a camarata se havia duas portas com mola que automaticamente se fechavam cada vez que se abriam?
Uma das portas era de rede mosquiteira e a outra até fechadura tinha.
Estava dado o alarme!
Camas desfeitas, armários abertos, os tubos das camas!
Um autentico reboliço mas nada de cobra. Estariam as portas abertas e num ápice teria vindo para a rua sem o plantão se aperceber? Teria sido visão do plantão?
Buscas infrutiferas.
Preparo-me então para o meu banho.
Os chuveiros, no chão, eram compostos por estrados de madeira.
Descontraído, entrei para o chuveiro e abri a torneira da água.
Ouvi claramente “bufar” e olhei para o chão. Fiquei completamente arrepiado. A cobra, uma surucucu, tinha-se escondido entre o estrado de madeira e o cimento.
Aos gritos, acudiram companheiros que ainda não tinham regressado à segunda sessão de trabalho.
Vassouras, rodos, botas e até sapatos serviram para que a cobra tivesse o merecido castigo pelo desplante que teve em entrar na camarata 6.
À noite, dei uma volta pela sanzala e fui ter com a “amiga” Maria Camacho.
-Maria, preciso que me arranjes um “pau de cobra”.
-Para quê, perguntou-me.
-É para matar cobras.
Contei-lhe então o que tinha acontecido na minha camarata.
Passados uns dias, em nova “visita” pela sanzala, a Maria mostra-me o “pau de cobra”.
Lindo. Melhor que uma moca de Rio Maior, pensei.
-Quanto custa?
-Dois quinhentos.
Paguei e fiquei com a moca que foi guardada dentro do meu armário por ter sido logo cobiçada quando cheguei à camarata.
Na verdade, este “pau de cobra” nunca foi utilizado para o fim com que foi comprado. Servia sim, para em noites de cerveja Nocal a mais, dar algumas “cacetadas” em lugares que pudessem fazer mais barulho.
Passou a chamar-se “pica miolos”.
Terminada a comissão, veio para a Metrópole dentro de um caixote de madeira juntamente com algumas "coisas" que tinha guardado ao longo de dois anos.
Ainda guardo esta peça como recordação. Não sei qual a qualidade da madeira mas sei que o caruncho não entrou.









Legenda: Pau de Cobra ou Pica Miolos
Foto: Víctor Sotero (direitos reservados).


Impecável, é como está, agora que se encontra invernisada.
Meu Comandante:
Saudações aeronáuticas.
Saudações ao “Comando”, à “Linha da Frente” e a todos os “Zés” que por aqui nos vão visitando.
Até breve

Sotero