quarta-feira, 23 de março de 2011

Voo 2213 PEQUENA HISTÓRIA I




Manuel Lanceiro
Esp.MMA (Canibais)
Lisboa


Barata,
Os meus votos de melhoras, isto é espero que esteja totalmente recomposto.Olha aqui vai uma pequena história, se achares alguma graça ou se vires interesse, publica, senão ...Estás à vontade.
Um forte abraço.
Manel Zé Lanceiro

Como já fiz referências noutros post, o destacamento de Nova Lamego (Gabu) era composto por uma DO 27, um heli canhão e um heli de transporte. Geralmente, combinávamos as tripulações, para evitar conflitos, até porque durante uma semana, partilhávamos o mesmo espaço.
Entre vários pilotos, havia um, com quem eu tinha uma grande amizade (como é evidente não digo o nome nem o posto), companheiro assíduo das noites no “Chez Toi” ou “Gato Negro” (como lhe queiram chamar), sempre que ia para destacamento fazia com que eu o acompanhasse.
Era hábito, encontrarmo-nos no Pelicano, para comermos qualquer coisa e beber um copo e de seguida ir ao Bento beber a bica e fazer tempo para seguirmos para o “Chez Toi”.
Ora, naquele sábado, não apareceu em nenhum destes sítios, não me preocupei muito, pensei que tinha ido fazer alguma despedida especial.
Acabada a noite voltei para a Base. Às seis horas da manhã, fui para a placa, preparar os aparelhos e fazer as inspecções antes de voo.
Ao romper do dia, lá apareceu o meu amigo piloto, vinha branco, com um aspecto horroroso e antes que eu dissesse alguma coisa, explicou-me que lhe tinham diagnosticado uma bicha-solitária e que na véspera tinha tomado um purgante fortíssimo. Resultando tinha passado toda a tarde e noite na casa de banho e ainda não estava completamente bem. Antes de vir para a placa, tinha lá estado novamente e ainda sentia fortes cólicas.
Perante a minha admiração e ar de gozo, disse-me:
- Estás-te a rir mas olha que isto não está nada bem, vamos lá a ver se não temos de aterrar em qualquer sítio para eu “c…ar”.
Entretanto chegou a tripulação do canhão e, para gáudio do pessoal, lá teve que repetir a história.
Ao que o atirador de canhão rematou:
- Quer dizer, hoje não temos caça, temos caca.
Combinámos, que se fosse preciso aterrarmos, o canhão fazia-nos protecção onde fosse preciso.
Feitos os procedimentos, descolámos rumo a Nova Lamego. A viagem não estava a correr nada mal, já tínhamos passado as bolanhas de Babadinca e já se avistava Bafatá, quando o nosso amigo olhou para mim e disse:
- Não aguento mais.
Informou o piloto do canhão e aterrou, mal teve tempo para parar o rotor, saiu e fato de voo abaixo que a aflição era muita.
Acabada a sessão, descolámos novamente, e começámos a ouvir o piloto do canhão a chamar-nos com insistência, e nós sem perceber nada, perguntámos o que se estava a passar, e ele à gargalhada informou-nos, que tínhamos participado na “cagada” mais segura da guerra da Guiné, que só um piloto da F.A. tinha esse privilégio.
Chegados a Nova Lamego e como era hábito, fizemos todos, o reabastecimento e a inspecção aos aparelhos e lá seguimos para o nosso alojamento.
Instalados e organizados fomos tomar o pequeno-almoço no restaurante em frente. Como é bom de ver, contámos a história ao Dinis, dono do citado restaurante, e ao Munir, lá se combinou que iriam preparar uma canja de galinha para as refeições dele naquele domingo.
Naquela semana, no destacamento de Nova Lamego, não havia outro assunto que a história da “cagada” mais segura da guerra na Guiné.