Miguel Pessoa
Cor.Pil.Av
Lisboa
Caro Victor e restantes editores
O texto do Fernando Castelo Branco reproduzido no Voo 2848 e o convite do
Victor Barata para me "pronunciar" sobre este assunto levaram-me a
escrever este texto, a que junto ainda uma foto com ele relacionada.
ACIDENTES EM TERRA
Recentemente o nosso camarada Fernando
Castelo Branco veio lembrar antigos acontecimentos que, não estando esquecidos
mas sendo algo desagradáveis, não costumo recordar… Tem a ver com a má sina que
envolvia o carro que tinha nesse ano de 1970 – um NSU TT – o qual acabou por se
finar com apenas 6 mesitos de idade. Ainda antes do estouro final, já duas
desgraças me tinham sucedido com aquele carro pois duas semanas antes, quando contornava
o clube de oficiais da BA2, Ota, deparei-me com uma camioneta de transporte
que, parada junto à porta do armazém resolveu de repente fazer
marcha-atrás sem confirmar se tinha o caminho livre… Sem tempo para eu reagir, a traseira da
camioneta entrou pela frente do carro, deixando esta bastante amarrotada… Tentando
ultrapassar esta contrariedade contactei um mecânico civil que trabalhava na
Base e simultaneamente fazia uns biscates num oficina no Carregado. Assim, lá
levou ele o carro… para me aparecer duas horas depois, com ar constrangido, a
informar-me que no percurso para o Carregado um condutor mais desatento tinha
resolvido entrar pela parte de trás do carro, deixando-a igualmente amarrotada…
Depois dos arranjos adequados, duas semanas depois - numa 6ª feira - tinha eu finalmente em mãos o carro, à primeira vista completamente recuperado. Mas nesse fim-de-semana não poderia testar a condição em que se encontrava pois tinha marcada uma missão de navegação para Madrid, em T-33.
Regressado à Ota na 2ª feira, lá pude finalmente ir testar o comportamento do carrito, tendo-me acompanhado para o efeito o Aspirante Senna de Vasconcelos, pessoa com quem tinha um bom relacionamento. A estrada que liga a parte alta com a parte baixa de Alenquer era sinuosa e acompanhada por moradias, não permitindo velocidades muito elevadas. Claro que os 60 ou 70 Kms/hora a que eu seguia já eram uma velocidade razoável, principalmente se tivermos em conta que numa das curvas encontrei espalhada uma quantidade grande de cascalho de construção que tinha escorregado de um montículo existente ao lado da estrada. O carro pareceu ganhar patins e percorreu rapidamente os 2 ou 3 metros de distância que o separavam da árvore mais robusta da zona… e ali se enfiou. Para quem não se lembre do NSU TT, posso acrescentar que era um carro bastante seguro… enquanto não saía da estrada. Com o motor colocado atrás, a parte da frente (a bagageira) era oca e funcionava como um harmónio numa colisão frontal.
Depois dos arranjos adequados, duas semanas depois - numa 6ª feira - tinha eu finalmente em mãos o carro, à primeira vista completamente recuperado. Mas nesse fim-de-semana não poderia testar a condição em que se encontrava pois tinha marcada uma missão de navegação para Madrid, em T-33.
Regressado à Ota na 2ª feira, lá pude finalmente ir testar o comportamento do carrito, tendo-me acompanhado para o efeito o Aspirante Senna de Vasconcelos, pessoa com quem tinha um bom relacionamento. A estrada que liga a parte alta com a parte baixa de Alenquer era sinuosa e acompanhada por moradias, não permitindo velocidades muito elevadas. Claro que os 60 ou 70 Kms/hora a que eu seguia já eram uma velocidade razoável, principalmente se tivermos em conta que numa das curvas encontrei espalhada uma quantidade grande de cascalho de construção que tinha escorregado de um montículo existente ao lado da estrada. O carro pareceu ganhar patins e percorreu rapidamente os 2 ou 3 metros de distância que o separavam da árvore mais robusta da zona… e ali se enfiou. Para quem não se lembre do NSU TT, posso acrescentar que era um carro bastante seguro… enquanto não saía da estrada. Com o motor colocado atrás, a parte da frente (a bagageira) era oca e funcionava como um harmónio numa colisão frontal.
Legenda:Dispondo de uma foto do “sinistrado” – embora de qualidade duvidosa – não quis deixar de a juntar a este texto… só para confirmar…
Como acertei na árvore mais do lado
direito do carro, foi esse o lado que mais encolheu – os faróis foram
encostar-se ao painel e a roda direita veio encostar-se ao banco do pendura,
deixando este em maus lençóis…
Resumindo, resultou desta cena que acabámos os dois num quarto do Hospital Militar, eu na cama da esquerda, ele na cama da direita – precisamente como íamos no carro... Mais grave o estado do meu pendura – tinha fracturado o fémur em dois sítios e rasgado o nariz – nem por isso eu fiquei muito melhor pois para além de amarrotar a fachada fracturei o colo do fémur, o que me originou uma imobilização ainda grande no hospital e um período de 6 meses até poder voltar a voar. Claro que com esse atraso lá se foi o curso de T-33 que estava a frequentar: quando voltei à Ota os meus companheiros de curso já tinham arrancado para a BA5, Monte Real… e eu ingressei no curso seguinte, entretanto iniciado por novo grupo. Resultou daqui um atraso irrecuperável na minha preparação para uma comissão em África, tendo por esse motivo sido o último a partir para essas bandas, com um atraso de cerca de 6 meses a um ano em relação aos outros do meu curso original.
Embora com uma recuperação mais lenta que a minha, penso que o meu camarada Senna de Vasconcelos não terá ficado no entanto com mazelas psicológicas relativamente às velocidades na estrada, pois tive a oportunidade de ver nos jornais da especialidade que ele terá mesmo participado em rallies nos anos seguintes…
Quanto a outros pormenores referidos pelo Fernando Castelo Branco relativamente aos Asas de Portugal e à nossa ida aos Açores, preferiria deixar esse assunto para outra altura – a conversa já vai longa e eu tenho que deixar algum material de reserva para o futuro…
Resumindo, resultou desta cena que acabámos os dois num quarto do Hospital Militar, eu na cama da esquerda, ele na cama da direita – precisamente como íamos no carro... Mais grave o estado do meu pendura – tinha fracturado o fémur em dois sítios e rasgado o nariz – nem por isso eu fiquei muito melhor pois para além de amarrotar a fachada fracturei o colo do fémur, o que me originou uma imobilização ainda grande no hospital e um período de 6 meses até poder voltar a voar. Claro que com esse atraso lá se foi o curso de T-33 que estava a frequentar: quando voltei à Ota os meus companheiros de curso já tinham arrancado para a BA5, Monte Real… e eu ingressei no curso seguinte, entretanto iniciado por novo grupo. Resultou daqui um atraso irrecuperável na minha preparação para uma comissão em África, tendo por esse motivo sido o último a partir para essas bandas, com um atraso de cerca de 6 meses a um ano em relação aos outros do meu curso original.
Embora com uma recuperação mais lenta que a minha, penso que o meu camarada Senna de Vasconcelos não terá ficado no entanto com mazelas psicológicas relativamente às velocidades na estrada, pois tive a oportunidade de ver nos jornais da especialidade que ele terá mesmo participado em rallies nos anos seguintes…
Quanto a outros pormenores referidos pelo Fernando Castelo Branco relativamente aos Asas de Portugal e à nossa ida aos Açores, preferiria deixar esse assunto para outra altura – a conversa já vai longa e eu tenho que deixar algum material de reserva para o futuro…
Um abraço.
Miguel
Pessoa
MA: Aqui está o
resultado do acidente que o Fernando aludiu no voo 2848, julgo que neste não
teve direito a recuperação de Alouette III e enfermeira pára-quedista
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