quinta-feira, 25 de julho de 2013

Voo 2853 A MINHA INICIAÇÃO Á PILOTAGEM EM... CARRINHOS DE ESFERAS.





Victor Sotero
SMôr EBAT
LISBOA




Meu Comandante:
A minha iniciação à “pilotagem”
Diziam as crónicas familiares, neste caso tios e meu pai que quando tinha quatro anos dizia que queria ser “piloto” quando fosse grande.
Não sei ou já nem me lembro até que ponto é verdade, mas como já nessa idade, quando tinha papel e lápis, escrevia grandes cartas que só os meus familiares eram capazes de ler, é possível que assim fosse.
A verdade é que posso dizer que nos anos que se seguiram, me lembro bem de nunca dizer que queria ser policia, bombeiro ou engenheiro de máquinas.
Atraia-me a ideia de ser engenheiro mas já tinha definido claramente a minha posição.
Olhando para trás, a verdade é que não posso deixar de sentir que tenho clarividência sobre o que seriam as perspectivas futuras da minha “Iniciação à Pilotagem”.
Já na escola e tendo como companheiros o Zé Duro e o Caixa D’óclos, fomos a uma serração de madeiras ao Páteo dos Caldeireiros que ficava à Rua dos Prazeres.
Três bocados de tábua, ou seja um bocado para cada um.


 A nossa rua, a Cecílio de Sousa é bastante inclinada. Sabão numa das partes da tábua para escorregar melhor e eis-nos na “Pilotagem” pelo meio da rua abaixo.

Por vezes, uma pedra mais saliente fazia com que a tabua batesse violentamente e logo a seguir, o acidente. Calções rotos, calças rotas e até mesmo os sapatos com falta de graxa.
Altura para o “piloto” chegar a casa com toda a espécie de desculpas. Porem, de vez em quando lá vinha a chapada da “ordem”.
Após a primeira fase de aprendizagem, havia que melhorar as performances recorrendo a nova máquina.
Para nos valer, a estância de madeiras e o Sr. Ventura. Queríamos passar à segunda fase da nossa aprendizagem.
A um canto, um tronco de madeira de onde foram cortadas algumas rodelas que fizeram as rodas depois de terem sido furadas com um trado e colocadas num eixo de madeira onde na extremidade levava um prego para a roda não sair disparada.
O volante era um eixo móvel preso por um prego a meio da tábua onde através de um cordel e com a ajuda dos próprios pés, se fazia virar à esquerda ou à direita.
Eram iguais, os nossos carros. Quando se descia a rua com o barulho criado pelo atrito, as pessoas olhavam. Eramos os maiores.
Já não havia segredos na “Pilotagem”. Por vezes tínhamos que aplicar travões a fundo com os calcanhares quando se aproximava algum carro vindo em sentido contrário.
Eu, o Zé Duro e o Caixa D’óculos fomos largados nestas máquinas ao mesmo tempo e ao mesmo tempo terminamos esta fase.
Por mim, continuei.
Na Rua de S. Marçal tinha sido aberta uma oficina de automóveis. Consegui comprar quatro rolamentos de esferas por dois tostões e fazer aquele que foi o melhor carrinho de esferas que tive.
Tinha “caricas” atrás e à frente que eram as luzes. O meu assento era forrado com um pano.
A minha máquina era moderna e de muito maior velocidade.
Fiquei com o curso completo de “Iniciação à Pilotagem” e mais tarde ofereci-me como voluntário para servir a Força Aérea sabendo que mais tarde o meu destino seria África.


Despeço-me meu Comandante.
Despeço-me do “Comando”, da “Linha da Frente” e de todos os “Zés” que nos vão, apesar de tudo, deitando o olho.
Até breve
V. Sotero



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