domingo, 20 de abril de 2014

Voo 3123 ESTA HISTÓRIA FAZ-NOS PENSAR.






Pompeu Bizarro
Emfº.FAP
Lisboa




Aos dezanove anos, João Pedro resolve por sua conta e risco alterar a sua vida. Vivia em casa dos pais, tinha namorada, emprego, uma vida razoavelmente estável, mas o serviço militar obrigatório aproximava-se, queria casar, mas preferia fazê-lo após cumprir a sua obrigação.
Aos vinte e um anos, enfrenta a realidade, serviço militar, África estava logo ali, sabia que dificilmente iria escapar, a guerra existia.
Está decidido, depois de convencer os pais e a namorada, sua futura mulher, alista-se na Força Aérea como voluntário. Encontrara a forma de casar e constituir família com a idade que em circunstâncias normais, estaria a cumprir o serviço militar obrigatório.
Com esta idade demonstra ter os pés bem assentes na terra, ser responsável, capacidade, carácter, poder de resolução, com esta atitude melhorava a sua qualidade de vida, no especto militar e consegue avançar para os eu objectivo, casar mais cedo.

Como especialista da Força Aérea (EABT),desempenha as suas funções com normalidade, distingue-se nos períodos de descanso, como jogador de futebol com enorme habilidade. Em África nos AM,s por onde passou, quando da sua mobilização, é conhecido, pelas longas missivas que escrevia á sua namorada,(futura esposa),letra muito cuidada, diria desenhada, quase diariamente o nosso companheiro, escrevia, escrevia…Preparava o seu futuro.
Regressa ao Continente, á vida cível, casa logo de seguida conforme o planeado.
Passado poucos meses, recebe proposta em melhores  condições, para si e sua mulher, aceitam emprego para ambos, na mesma firma, vão viver para a Maia e trabalhar para o Porto.
Tudo corre sobre rodas, vida estável, mulher grávida, entretanto acontece o 25 de Abril.
A firma onde ambos trabalham abana, mas mantêm-se a laborar, a mulher desmarca-se do Pedro em termos laborais, é  promovida a chefe de gabinete, o Pedro pelo contrário, começa a ter problemas por diversas reivindicações, por fim é despedido.
O Pedro consegue novo emprego, mudam de casa, continuam nos arredores, Valongo foi o local escolhido. Nesta não vão estar sós, após muita insistência conseguem convencer os pais do Pedro, deixam tudo para trás para tomar conta da neta (minha afilhada),a mulher está de novo grávida o nascimento de um neto, teve influência na decisão destes na ida para o norte.
O pai do Pedro já reformado, logo que se instala procura e consegue um emprego, a mãe do Pedro está em casa toma conta dos netos e da lide doméstica. Os anos vão passando tudo com qualidade de vida agradável.
Enfim tudo normal, uma vida com poucos sobressaltos.(Já passaram alguns anos).
Voltam a mudar de casa, desta vão para o Porto (Boavista).
A mãe do Pedro morre e este volta a ficar sem emprego.
Consegue novo emprego, desta como vendedor de automóveis, o tempo vai passando mas lago não está bem, já começa a transparecer para o exterior, que o Pedro não atravessa um bom momento, algo está errado.
Numa ida minha ao Porto, tenho uma conversa com ele, tente convencer a que este desabafe, mas nada feito, diz que tudo está bem, tudo normal.
Passaram cerca de dois a três meses, recebo um telefonema da mulher, pede-me para ir ao Porto. Á chegada uma enorme surpresa, o Pedro já não comungava da mesma casa, nesta vivia o pai deste ,os filhos e a mulher, esta tinha expulsado este de casa.
Sei dos motivos desta, sempre me pareceram correctos, razoáveis  e, acima de tudo, merecedores.
Encontro-me com o Pedro, o filho(meu afilhado) está presente, conversamos durante horas, nada consegui da parte deste para o acontecido, vive num quarto provisoriamente, está sem trabalho, a partir daqui começa a recorrer de amigos e conhecidos, começa também o descalabro de uma vida sem sentido.
O pai morre.
Mais tarde, depois de uma travessia no deserto, de ideias, valores, de fome, inserção na sociedade que o rodeava, aparece em Lisboa, recebo-o na minha casa, alguns dias. Está mal, muito mal, é difícil manter uma conversa com principio e fim.
O Jorge Robalo, Carvalho para alguns, que acompanhava a situação, instalou-o em casa deste durante algum tempo, continua sem emprego, vive de ajudas monetárias dos amigos, alguns de vocês contribuíram.
Um dia desaparece, venho a saber mais tarde que vive em Castelo Branco, arranjou uma companheira, finalmente o Pedro parece recuperar, está de novo a trabalhar, a sua nova companheira  consegui-o coloca-lo na Câmara, nunca cheguei a saber que tipo de funções exerceu, não interessa, trabalha, é uma boa notícia.
Neste período de cerca de três anos, houve pouco contacto entre mim e o Pedro, mas sei que altos e baixos, a sua vida parece não estabilizar.
Um dia sou surpreendido, a minha filha diz ter encontrado o Pedro na Amadora, na conversa que teve com ele, curta e pouco esclarecedora, não consegui esmiuçar o que se passava, entretanto dá-lhe a morada de uma loja que eu tinha na altura na Amadora e este passado uns dias aparece na mesma.
Fico a saber que vive na Amadora, na fronteira com a Venda Nova, está desempregado, arranjou nova companheira, é esta que lhe dá guarida. Recebe um subsidio, o suficiente para sustentar o vicio da bebida alcoólica, que podia ser brandy, na maior parte das vezes.
Foi a partir daqui que desisti de saber do meu amigo Pedro.
A palavra desistir, nunca foi assumida na totalidade, se estivesse na guerra, se ele tivesse sido ferido não o deixava para trás, portanto nesta guerra que este enfrenta a sociedade, também não o devia fazer. Procurei-o de novo, voltei a encontra-lo, mas o meu amigo já não está.
Desta vez foi el que desistiu, encontra-se em estado de demência avançada sem possibilidade de retrocesso, apenas lhe posso dar carinho, amizade, visitando-o.
Sei que ele possivelmente não o saberá, mas se puder não o deixar para trás beste combate, tudo farei para tentar melhorar a sua qualidade de vida, neste fim galopante que se aproxima.
Companheiros, o que peço a vós, dentro das vossas possibilidades, claro, se passarem por Fátima, numa viagem ao Sul ou ao Norte de Portugal ou até numa visita ao Santuário, este vosso companheiro está ali perto. Está internado na Unidade de Cuidados Continuados BENTO XVI, a morada é Rua dos Moinhos,nº120  2495-560 Fátima. Logo na primeira Rotunda, a dos Pastorinhos, tomas avia da direita, passado cerca de três KM encontras a instituição, aliás á placas indicativas. Se ele não reconhecer, se ele não te agradecer, dá-lhe ainda um abraço mais forte, para ele sentir que tu estás disposto a não deixar um companheiro para trás.


Bizarro

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